Por Paulo Cheida Sans, de Campinas, São Paulo
O Museu Olho Latino, de Atibaia, apresenta a mostra “O Homem na Obra de Márcia Santtos”, composta por 23 gravuras realizadas no decorrer da carreira da artista, iniciada em meados da década de 1980. São cenas e momentos que mostram o homem como um ser em sintonia com as leis do universo em sua plenitude.
A inspiração da artista é o homem, o ser humano no seu cotidiano. Representa a pessoa absorta com seus afazeres. Crianças aparecem em situações inesperadas, com os trejeitos e traquinagens características de um mundo lúdico, envoltos numa serenidade. Jovens conversam, coadunam segredos. Adultos estão cativados pelo seu dia a dia costumeiro. Idosos mostram as rugas do tempo. Mas, embora a artista mostre o tempo presente, suas gravuras podem ser consideradas atemporais. As crianças, jovens e adultos formam no conjunto de sua obra uma força a favor da vida, do sentimento e da harmonia com o universo, com as leis divinas e espirituais que elevam a plenitude de viver. Refletem o estar de bem com o planeta, independente da idade, do tempo e da mensuração.
Para a artista Márcia Santtos o homem é a imagem essencial em sua produção, porque é nele que encontra o que não encontra em outras formas. Conclui: “A figura humana me ensinou muito sobre gravura nesses 23 anos. Cada traço, o jogo de claro e escuro, a escolha das texturas, enfim as composições são resultadas de reflexões sobre a história de cada um e ao mesmo tempo de todos nós”.
Márcia Santtos faz o seu percurso expressivo, escolhendo temas e assuntos que estão incutidos em sua vida, a fim de perpetuá-los e transformá-los como imagem. Fazendo assim, ela nos oferece possibilidades de uma ligação com a nossa história, envolvendo as premissas que norteiam o sentimento humano em qualquer época ou parte do mundo. As características de suas manifestações criativas são as de captar cenas e momentos que mostram o homem como um ser em sintonia com as leis do universo em sua plenitude. Mostra isso por meio da postura e do gesto de cada ser incutido em sua obra.
Para o jornalista e crítico da Associação Internacional de Críticos de Arte, Oscar D’Ambrosio, a produção da artista “apresenta uma poética da figura humana marcada pela sensibilidade e pela economia de recursos”. Disse que “a imagem resultante do trabalho é carregada de humanidade”.
Ao tempo em que a artista mostra em suas obras segmentos de sua história, oferece para nós outra história, universal, que liga afeições entre os seres humanos. Além de suas temáticas envolventes, vale mencionar as experiências diversas que faz no âmbito da gravura. No manuseio de materiais não habituais, casa técnicas e descobre possibilidades, aliando o seu conhecimento como gravadora em prol da arte do nosso tempo. Faz gravuras com diferentes técnicas, como a ponta seca, água forte, água tinta, além de pesquisas sobre matrizes de policarbonato.